Conservação ambiental será vitoriosa em Rondônia se houver recuperação de nascentes
Revitalizar. Há quantos anos se repete esse verbo quando se debate água, floresta e clima no Brasil? Em Rondônia, pelo menos, ele passa agora a ser parte de políticas públicas ambientais. Cacoal, a 479 quilômetros de Porto Velho, tem cerca de quatro mil nascentes degradadas.
“Como será o cenário rondoniense daqui a 30 anos?”, questionou nesta terça-feira (22) o consultor ambiental Adilson Pepino, com 33 anos de experiência em Rondônia. A Semana Estadual da Água começa e Rondônia institui o Dia Estadual do Meio Ambiente, neste 22 de março. A convite do secretário estadual do Desenvolvimento Ambiental, Vilson de Salles Machado, ele falará nesta quarta-feira (23), a partir das 9h, no Rondon Palace Hotel, dos desafios ambientais neste milênio. O evento é abeto ao público.
“Atualmente, 20% da população [1,4 bilhão de pessoas] não têm acesso à água potável”, lembrou. Para Adilson, os principais problemas mundiais “a exigirem 24 horas de exame de consciência das pessoas” são: água, lixo, produção de alimento, aquecimento e superpopulações”, disse.
Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), no mundo aproximadamente 2 mil crianças com menos de cinco anos morrem diariamente devido a doenças diarreicas e cerca de 1.800 dessas mortes estão ligadas à água, ao saneamento e à higiene.
Integrante da empresa Flora Sestec, Adilson iniciou suas atividades com plantios florestais em março de 1984, na empresa Lammy Compensados, em Ji-Paraná [a 370 quilômetros de Porto Velho], até então, uma das maiores empresas no segmento de compensados do Brasil.
O diretor executivo da Sedam, Robson Damasceno, lembrou que 12% da água doce do mundo percorre o território brasileiro, onde vivem menos de 3% dos seres humanos.
CONSCIENTIZAÇÃO
“A conscientização maior a respeito da conservação só agora vem chegando, mas será vitoriosa se for feita primeiro do que a revitalização de matas ciliares”, disse Adilson.
Duas oficinas foram programadas para esta terça (22) no Dia Estadual do Meio Ambiente: “Panorama dos Recursos Hídricos do Estado de Rondônia”, com o geólogo José Trajano dos Santos, da Sedam; e “Saneamento Básico”, com a participação de Maria Lucinele de Lima, da Companhia de Água e Esgoto (Caerd); e a palestra sobre “Sistema Nacional e Estadual de Recursos Hídricos”, pela professora doutora Catia Zuffo, docente da Universidade Federal de Rondônia.
Nesta quarta-feira falarão na Semana da Água o meteorologista Marcelo Gama (Sistema de Proteção da Amazônia), com o tema “Influência Pluviométrica e Clima”. Na sequência haverá oficina sobre o Projeto Beija Flor – Recuperação de Matas Ciliares”, com Adilson Pepino; e em seguida, a doutora Cátia Zuffo, da Universidade Federal de Rondônia: “Observatório da Governança das Águas”.
Desde a década de 1990, a extração de água para consumo nos centros urbanos do Brasil aumentou 25%, percentual que é o dobro do avanço do Produto Interno Bruto (PIB) per capita [por cabeça] dos brasileiros no mesmo período. “Quanto maior é a renda de uma pessoa, mais ela tende a consumir e maior é seu gasto de água”, assinalou.
Segundo Damasceno, o Brasil consome 356 bilhões de metros cúbicos por ano: “É o quarto maior consumo do mundo, perdendo para a China, a Índia e os Estados Unidos. Estamos tão acostumados com a fartura de recursos que talvez nada disso assuste, mas nove estados do país já ultrapassaram ou estão no limiar do estresse hídrico”, alertou. Nessa conta, além dos tradicionais estados áridos do Nordeste, entram os mais urbanizados e desenvolvidos.
ASSOREAMENTO
“O volume d’água no mundo continua o mesmo, mas a escassez é uma ameaça presente em estudos e debates. Eu atribuo ao assoreamento de rios, lagos e igarapés o maior problema da recomposição da mata ciliar”, comentou o consultor.
Assoreamento é o fenômeno que ocorre no leito dos rios, com acúmulo de detritos, lixo, entulho e outros. No fundo dos rios e lagoas, esse acúmulo interfere na topografia de seus leitos, impedindo-os de portar todo o seu volume hídrico. Provoca transbordamento em épocas de grande quantidade de chuvas e tornados.
Aualmente, a tecnologia para a revitalização de uma nascente custa R$ 29,6 mil. São raras as fontes de recursos para contemplar o setor, mas a rede pública estadual de ensino, o Instituto Federal de Rondônia (Ifro) e algumas associações já se mobilizam nesse sentido em Ji-Paraná. “A criança tem condições de educar o adulto”, disse.
“Algum tempo atrás, o secretário de agricultura Evandro Padovani e o governador Confúcio Moura demonstraram-me grande preocupação com os recursos hídricos no estado, e sugeriram um grande trabalho de revitalização nas áreas urbanas e rurais”, contou Adilson.
Adilson adverte prefeitos e demais autoridades municipais para que não esperem “soluções vindas do céu, nem somente do governo”. “Só quando a população tiver bom senso para organizar uma força-tarefa, responderemos ao grande desafio”, disse.
O racionamento, não admitido por autoridades, tampouco pela população que desperdiça água, seria medida radical contra o problema no campo e, principalmente, nas cidades.
TRAGÉDIAS SUL E NORTE-AMERICANAS
Adilson lembra que os sinais do caos hídrico já inscreveu o lago Poopó [em Oruro, Bolívia] no rol das tragédias ambientais no mundo. “Praticamente, ele sumiu”, comentou.
O Poopó foi um lago salgado com área de 1.340 km² e poderia chegar a cerca de 2,5 mil Km² quando completamente cheio. Ficava a 3,6 mil metros acima do nível do mar, alimentando-se do Rio Desaguadero, único fluxo de escoamento do lago Titicaca. As águas eram turvas, com uma profundidade média de 3 m, e havia extensas áreas de lama exposta.
“O Lago Mead [na fronteira entre os estados de Arizona e Nevada], cercado por rochas vermelhas de arenito e por rochas negras de lava no Back Canyon, tem 1,6 bilhão de anos, e também está ameaçado”, comentou Adilson.
Maior lago artificial do mundo, o Mead foi criado pelo represamento das águas do rio Colorado para a represa Hoover. Belíssimo, ocupa uma área de 1,5 milhão de hectares e aproximadamente 1.320 quilômetros de costa. Em dezembro de 2015 noticiou-se que ele estava reduzido a três áreas úmidas, de menos de um quilômetro quadrado e com apenas 30 centímetros de profundidade.
A seca que atingiu os Estados Unidos no último verão – a mais severa e mais longa dos últimos 25 anos – é uma espécie de prévia disso. A falta de chuvas engoliu 0,2 ponto do crescimento da economia americana no segundo trimestre deste ano.
RIO URUPÁ
Adilson reafirma seu compromisso com a conservação ambiental em Rondônia. Por meio do Projeto Beija-flor, na Flora Sestec, ele obteve as parcerias da Caerd, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Ji-Paraná e da Secretaria Estadual do Desenvolvimento, a fim de conter a erosão e recuperar duas nascentes que desaguam no Rio Urupá.
Não por coincidência, mas por reconhecer o perigo do assoreamento, da erosão e do desmatamento na Amazônia Ocidental Brasileira, a Caerd adota o slogan: “Cuidar hoje para nunca faltar”.
E providências: na próxima quarta-feira (30), chefes de 15 escritórios regionais de gestão ambiental participarão do seminário promovido pela Sedam, visando o planejamento de ações nessa área.
“A Sedam está convicta de seu papel quanto a adoção de ações de proteção aos recursos hídricos. Se nada mudar nas próximas décadas, cerca de 45% de toda a riqueza global será produzida em regiões sujeitas ao estresse hídrico”, disse o diretor executivo Robson Damasceno.
Texto: Montezuma Cruz
Fotos: Admilson Knightz e Arquivo Pessoal Adilson Pepino
Governo de Rondônia